A independência é algo maravilhoso, porém, existem momentos
em que você simplesmente não pode se virar sozinho e não há nada de errado em
pedir ajuda. Nesses 10 meses morando sozinha eu precisei de refúgio na casa dos
meus pais duas vezes. A primeira vez foi planejada, quando fiz a cirurgia para
retirada das amígdalas, e mais a pedido da minha mãe, que queria cuidar de mim
no pós operatório. Já a segunda foi de improviso quando, recentemente, tive
dengue.
Na
ocasião da cirurgia, foi tudo organizado, arrumei uma mala com as roupas,
separei as coisinhas dos meus gatos e fomos os três passar uma semana na casa
dos meus pais, como nos velhos tempos. Confesso que foi estranho dormir no meu
antigo quarto, pois não sentia mais ele como “meu”. Era um quarto com alguns dos
meus livros, minha antiga cama e o closet da minha mãe. Também estranhava o
barulho na casa logo pela manhã, pois eu me adaptei muito rápido ao silêncio
matinal. Outra coisa com a qual eu estava desacostumada era com “a hora da
novela”, pois eu quase não vejo mais tv. No fim, apesar de estranhar algumas
coisas, foi uma semana em que revivi o acolhimento de sempre e me recuperei
cheia de paparicos, pois minha mãe fazia tudo o que por ventura eu conseguiria
comer tempos difíceis de sopa fria e gelatina.
Como nos velhos tempos, nós e o Pepe, pois o Romeu estava brisando...
Dengue,
só de pensar já me arrepia a espinha. Sério, não existe dignidade quando se
está com dengue. Eu comecei a ter os sintomas em um domingo à noite, em um
churrasco. Primeiro foi a febre, com a qual não me preocupei. Chegando em casa,
começou a diarreia e eu estava crente que era uma dessas viroses loucas. Na
segunda-feira fui trabalhar e a febre estava insistente, fui para casa mais
cedo, dormi muito, e na terça nem fui trabalhar. A diarreia piorou e, cada vez
que pisava no chão, parecia que minha cabeça ia explodir. Então ouvi o conselho
da minha mãe e fui ao hospital, sozinha.
Ao ser
examinada pela médica, ela disse que ia pedir uns exames de sangue, mas, ao que
tudo já indicava, era dengue. Enquanto era medicada e aguardava o resultado dos
exames, recebi um carinho muito bacana de pessoas que também moram sozinhas e
se prontificaram a me ajudar, foi importante pra mim ver o quanto estou rodeada
por pessoas que realmente se importam comigo. Enfim, era dengue mesmo, meu pai
me buscou no hospital e fui direto para casa dele. No tempo em que fiquei
hospedada nos meus pais, eles me traziam em casa para colocar comida para os
meus filhos de quatro patas, e eu podia matar um pouco a saudade deles.
Foram
praticamente 10 dias de molho. 10 dias
de dores, febre, diarreia, desidratação e manchas vermelhas pelo corpo. 10
longos dias em que estava longe dos meus 30 m² de pura felicidade, preocupada
com os meus gatos e com o trabalho. 10 dias em que pude perceber com quem eu
realmente podia contar, quando fui surpreendida negativa e positivamente, pois
pessoas que eu mal esperava estavam todo dia ali, mesmo que fosse para
perguntar como eu estava com a piadinha clássica de quem tem dengue, “e ai,
dengosa, como você está hoje?”. 10 dias
onde aprendi que suco de inhame não é tão ruim assim. 10 dias em que chá era néctar
dos Deuses. Foram, sobretudo, 10 dias em que eu agradeci muito pelos pais
incríveis que tenho, pois, de verdade, sem eles, esses 10 dias teriam sido muito
piores. Pai e mãe, vocês são os melhores! <3
Abraços
Renata Forné Bernardino
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