“Poderia escrever sobre
tantas coisas, mas é uma corrida contra o tempo e são tantos os pormenores
envolvidos. É a música que acaba, o farol que abre, um ‘oi’, uma memória
musical, um ‘a gente vai se falando’, uma saudade, é uma vida inteira
acontecendo em fragmentos de cotidiano.”. Alice S.
Eu sempre gostei muito de escrever, para mim isso tão
natural quanto escovar os dentes. O ritual de pegar o caderno, colocar uma
música e despejar meus pensamentos no papel, começou aos 13 anos. Desde então,
foram muitos cadernos, agendas e guardanapos de boteco. Escrevia sempre e em
qualquer lugar, as palavras simplesmente fluíam e isso me bastava, pois, escrever
sempre aliviou minha alma. Mesmo gostando de escrever relutei para fazer
jornalismo, apesar do incentivo do meu pai, eu achava que ia ser um porre
escrever sobre assuntos que seria “obrigada” para pagar as minhas contas. Acabei
fazendo e a faculdade foi muito bacana. Apesar de todos os percalços, fui muito
bem no curso e nunca peguei nem um exame. Depois já fiz uma pós-graduação e,
por muito tempo, só escrevi sobre temas que pagavam o meu salário.
“Pensando na minha relação com o tempo resolvi reler coisas antigas, foi
quando entendi Leminski ‘abrindo um antigo caderno foi que eu descobri
antigamente eu era eterno’. Eu era boa nessa coisa de despejar meus pensamentos
no papel. Era natural, intrínseco e voraz. Minha alma ali, despida pela caneta,
descrita por palavras que pudessem esmiuçar meus sentimentos. Hoje, mais
interessante e centrada, aprendi a ser mais direta, menos poeta, perdendo o
brilho para o tom da objetividade (inexistente) que exige a profissão. A beleza
da autenticidade deu espaço aos moldes da pirâmide, o lead enquadrou a
espontaneidade e, agora, rompo com essas formalidades para assinar meus dizeres
apenas como EU”. Escrevi esse
texto em novembro de 2013, depois de anos sem escrever algo que viesse das
minhas entranhas poéticas. Depois desse texto eu passei por mais um tempo sem
escrever nada que fizesse sentido para a minha alma, até dia 11 de janeiro de
2014, quando fui apresentada para Alice.
Era uma linda noite de verão. Eu sai para dançar e uma amiga me
apresentou para o Edgar, poeta a quem serei eternamente grata! Ela contou para
ele que eu também escrevia e começamos a falar sobre isso. Contei que fiquei um
bom tempo sem escrever, pois minha veia poética tinha secado com a rotina de
jornalista. Quem nasceu para poesia não gosta da vida em tons de cinza, precisa
de uma paleta para colorir a vida, mas minha inspiração para pintar a vida
estava dormente em algum lugar aqui dentro. Então ele me deu a ideia genial de
assinar meus textos com outro nome:
- Qual o primeiro nome que vem na sua cabeça?
- Alice!
- Prazer, Alice.
Nessa mesma noite eu já tive vontade de escrever. Edgar
me emprestou o celular dele, onde escrevi uma nota que ele me enviou depois:
“Sobre a batida da
música...
Putz, ela invade de um
jeito que é difícil quantificar. É o ápice da liberdade ali, pura e
simplesmente em sua essência, tocando na alma.
Alice”.
Depois disso eu reencontrei o meu lado poeta, o lado colorido, e voltei
a escrever como aquela adolescente que só precisava de um pedacinho de papel em
branco para se sentir livre e plena ao colocar seus pensamentos e sentimentos
ali. Nesse tempo, como Alice, muitas pessoas me mandaram mensagens na página do
blog querendo saber quem eu realmente era, me faziam perguntas sobre os textos
e diziam que se identificavam com o que eu escrevia.
Por um bom tempo eu quis manter Alice intocada em seu mundo tão cheio de
vida. Renata escrevia sobre os assuntos práticos que pagam as contas e Alice sobre
o melhor lado da vida. Alice é pura poesia, ela vê emoção em tudo, ela vê o
infinito sem piscar, ela se joga na vida e escreve sobre tudo o que faz seus
olhos brilharem. Resumindo: Renata é o lado racional e Alice o sensível. Convivemos,
nós duas, muito bem assim durante um bom tempo, mas depois que eu vim morar
sozinha, e me encontrei como ser único no universo, passei a ver esse lado de poeta peregrina com mais carinho, tanto que Alice escreve nas paredes de casa. Quando eu comprovei
que uma das nossas forças é reconhecer nossa sensibilidade, eu passei a
entender e aceitar meu lado Alice.
Alice, Renata, Renata, Alice...
Teve um momento específico que li Renata e Alice. Durante o Lollapalooza
deste ano eu escrevi um texto tão profundo e verdadeiro, tão fiel às duas, que percebi
que, finalmente, a jornalista e a poeta peregrina se unificaram em uma única
escritora. Então resolvi assumir Alice de uma vez. Algumas pessoas perguntaram
se eu estava acabando com a Alice, se eu ia parar de escrever poesias. Meeeeu,
NÃO! Não estou rompendo com ela. Pelo contrário, estou acolhendo e assumindo Alice
em sua totalidade, ou seja, meu lado poeta. Agora os textos de Alice serão
publicados aqui, nesse blog, na coluna “o surpreendente sabor do inusitado”,
frase muito pronunciada pela Alice que certa vez escreveu: ah, o delicioso sabor do inusitado!
Aquele gostinho de quero mais que surge como fogos de artifício nas papilas
gustativas...
Então é isso :)
Até o próximo post de Alice ou Renata
Abraços
Alice S. e Renata Forné Bernardino